RCPTu (Piezocone de Resistividade) - Esclarecimentos
FAQ Sobre Piezocone de Resistividade (RCPTu)
Muitos profissionais, de diferentes formações e experiências, nos fazem questionamentos
quando começamos a falar sobre o piezocone de resistividade (RCPTu).
Embora tenhamos publicado alguns trabalhos sobre o tema e feito uma
apresentação no VIII Seminário sobre Remediação e Reabilitação de Áreas
Contaminadas, muitos pontos ainda não puderam ser totalmente esclarecidos, com
isso, as possibilidades dessa ferramenta ficam limitadas.
Vamos às perguntas mais frequentes:
1) Para que serve o RCPTu?
R: O ensaio
de piezocone de resistividade (RCPTu), bem como o ensaio de piezocone (CPTu,
também conhecido nos EUA como uCPT ou µCPT) têm como função básica fornecer,
com alto grau de precisão e em escala de centímetros, um perfil
hidroestratigráfico de alta resolução.
Esse
perfil hidroestratigráfico é muito mais rico que um “perfil estratigráfico” ou “perfil
litológico”, normalmente elaborado nas investigações, e é fundamental para as
investigações geoambientais de áreas contaminadas porque determinam as zonas
preferencias de fluxo e armazenamento e porque detectam as heterogeneidades
hidrogeológicas, principal fonte de incertezas para a elaboração de um adequado
Modelo Conceitual do Site (MCS). Esse MCS é a base para qualquer tomada de
decisão a respeito da área contaminada, inclusive sobre o projeto de remediação.
Além
dessa função primordial, o sensor de Condutividade Elétrica (chamado também de
sensor de Resistividade Elétrica) consegue detectar variações da condutividade
elétrica do solo, podendo indicar, por exemplo, uma intrusão (cunha) salina, ou
a presença de água com muitos íons dissolvidos (contaminada por metais
dissolvidos), ou ácida (vazamento de ácido ou chorume).
Uma informação importante é que o equipamento da ECD não possui cabos, o que torna o trabalho muito mais rápido e eficiente.
Equipamento (sensores) RCPTu
2) Qual a diferença do RCPTu para o CPT ou CPTu?
R: O ensaio
de Cone Elétrico (CPT ou Cone Penetration
Test) basicamente utiliza 2 sensores para fornecer as características do
solo avaliado: resistência de ponta (Qc) e resistência ao atrito lateral (fs).
Com essas duas características, é possível estabelecer com um grau adequado de
precisão, o perfil estratigráfico daquele ponto, bem como alguns parâmetros de
projetos geotécnicos. O ensaio de Piezocone (CPTu) utiliza, além dos 2
sensores, um terceiro, que mede as pressões neutras, ou poro pressão, ou seja,
ele mede a pressão da água. A pressão esperada é a pressão hidrostática naquele
ponto. Se há um excesso de poro pressão naquele ponto, ele é gerado pela
cravação do cone (conjunto de sensores), então quanto maior o excesso de poro
pressão, menores são os “espaços” pelos quais a água “caminha”, ou seja, menor a condutividade hidráulica
naquele ponto. O ensaio de Piezocone de Resistividade (RCPTu) adiciona um
sensor de condutividade elétrica do solo aos outros três, incrementando ainda
mais a análise de alta resolução que se pode fazer da hidroestratigrafia, além
de identificar variações na condutividade elétrica (cunha salina no aquífero,
por exemplo).
3) O RCPTu tem alguma coisa a ver com SPT?
R: Excetuando-se
o fato que ambos podem ser usados para obter parâmetros geotécnicos de projeto,
não tem nada a ver. O RCPTu é um ensaio mecanizado, de alta precisão e
tecnologia, enquanto o SPT é um ensaio que tem como objetivo principal fornecer
apenas 1 parâmetro geotécnico (o “N”, que pode ser correlacionado com a
resistência de ponta), e de modo secundário, obter amostras de solo (em geral,
15 cm para representar 1 m). O SPT pode ser mecanizado, mas o SPT manual, com
tripé e operários puxando a corda com o peso corresponde a mais de 90% dos
equipamentos dessa modalidade.
4) Os ábacos dos ensaios CPT/CPTu são baseados nos
solos temperados e fornecem resultados muitas vezes discrepantes para os solos
tropicais, isso é verdadeiro?
R: A
afirmação tem um fundo verdadeiro (embora, nos estudos geotécnicos, o ábaco
seja utilizado com excelentes resultados no Brasil inteiro). Porém, não tem
quase nenhuma relação com a proposta da utilização do ensaio RCPTu para
investigação geoambiental de áreas contaminadas. O famoso (na geotecnia) ábaco
de Robertson foi formulado com base nos solos temperados e pode vir a dar
resultados errados se aplicados em solos brasileiros para estudos geotécnicos. No entanto, no uso que a ECD está
propondo (e que encontra respaldo na USEPA e em várias consultorias americanas),
o ábaco de Robertson não é utilizado,
pois a informação importante para as investigações de áreas contaminadas é o
perfil hidroestratigráfico, ou seja, a identificação precisa das zonas de fluxo
e armazenamento e das heterogeneidades em escala de centímetros, o que
independe do ábaco.
Portanto,
mesmo que a informação seja verdadeira, ela não se aplica ao uso do RCPTu
proposto aqui.
5) O ensaio RCPTu serve “só” para elaborar o perfil
estratigráfico?
R: O ensaio
fornece muito mais que um simples perfil que poderia ser obtido com outra
ferramenta (Amostragem de solo Direct Push, por exemplo). As informações
obtidas com o RCPTu são muito mais ricas, precisas e com maior densidade de
dados que podem ser correlacionados entre si. Um perfil obtido pelo RCPTu é
verdadeiramente hidroestratigráfico de alta resolução, enquanto um perfil
tradicional é, no máximo, estratigráfico em escala de metro. Como a maior fonte
de incertezas na elaboração do Modelo Conceitual é a heterogeneidade
hidrogeológica, essa ferramenta busca reduzir muito esse fator limitante.
Determinação das heterogeneidades hidrogeológicas
6) Como o sensor do RCPTu é cravado? Qualquer máquina
consegue fazer esse ensaio?
R: O sensor
RCPTu precisa ser cravado por pressão hidráulica a uma velocidade constante de
2 cm/s, necessita de uma força de cravação importante e não pode ser utilizada
ferramenta percussiva (hammer, martelete, etc). Em resumo, a máquina tem que
ser adequada e preparada para o ensaio, não é possível adaptar qualquer sonda
para fazer esse tipo de trabalho.
7) Em quais situações o uso do RCPTu é mais indicado?
R: Nas áreas
onde é necessária uma investigação detalhada bem feita e a elaboração de um
modelo conceitual adequado. Essa situação acontece, geralmente, após a
investigação confirmatória e antes da elaboração do plano de intervenção ou do
projeto de remediação.
O
uso do RCPTu independe do composto químico de interesse, pois a informação que
ele dá é sobre o meio físico, em particular sobre as heterogeneidades
hidrogeológicas, então, não importa se o composto químico é LNAPL, DNAPL,
metais, pesticidas ou outro qualquer, mas sim se a identificação das zonas de
fluxo e armazenamento é importante para as tomadas de decisão.
Especificamente
o sensor de condutividade elétrica é altamente indicado quando o estudo pretende
determinar anomalias desse parâmetro na água subterrânea. O caso mais clássico
é a identificação e delimitação de cunha (intrusão) salina no aquífero. O
sensor já foi usado com sucesso para identificar chorume em aterros sanitários,
distribuição vertical de pluma de metais dissolvidos, entre outros.
8) Quais são as limitações do RCPTu
R: Basicamente
o equipamento não conseguirá ser cravado com força hidráulica de 120 KN em
material consolidado (rocha sã, alterada, aterros, matacões), ou em solos com
resistência de ponta muito alta (cascalho, argilas muito compactadas). Vale
ressaltar que outros equipamentos possuem a mesma limitação, em particular no
material consolidado.
9) Existem outros métodos além do RCPTu para se obter
um perfil hidroestratigráfico de alta resolução para determinar as
heterogeneidades hidrogeológicas com precisão?
R: Sim, de
acordo com as pesquisas mais recentes, há uma excelente correlação entre as
ferramentas: CPTu, EC (Condutividade Elétrica do solo) – os ensaios RCPTu são a
soma desses dois – , PPDT (dissipação de poro pressão) – esse ensaio é feito
com o equipamento RCPTu – , HPT (Hydraulic Pressure Test), DPIL (Direct Push
Injection Logging) e PST (Pneumatic Slug Test). Maiores informações podem ser
obtidas nesse paper: http://www.cpt10.com/PDF_Files/3-33Quihap.pdf .
A
conclusão disso é que todas essas ferramentas são importantes e muito boas para
se definir um perfil hidroestratigráfico adequado, no entanto, algumas
respondem melhor a determinadas situações. Por exemplo, o PPDT e o PST são mais
precisos, porém, são pontuais (não contínuos), um respondendo melhor em argilas
(PPDT), outro em areias (PST). O HPT e o DPIL dependem de injeção de fluido na
formação para que os resultados sejam obtidos, o que nem sempre é positivo em
uma investigação geoambiental. Em resumo, é preciso conhecer o site e as
ferramentas para que se tenha o melhor uso dessas, mas o RCPTu tem a vantagem
de ser contínuo, aplicável a um gradiente maior de litologias, não precisar de
cabos nem calibração “in situ” e ser composto de 4 sensores que medem
características diferentes.
10) O ensaio RCPTu funciona igual ao MIP?
R: Não, são
ensaios que se complementam, porém, são muito diferentes. O Membrane Interface
Probe (MIP) é um sensor que indica, em campo, concentrações de alguns compostos
químicos de interesse, em particular dos solventes clorados. Juntamente com os
métodos LIF (Lases-Induced Fluorescence, sensor que indica concentração de
hidrocarbonetos), são muito usados nos EUA em investigações de alta resolução.
Ambos são considerados pela EPA como métodos “Direct Push” (ver informações em http://www.clu-in.org/characterization/technologies/mip.cfm para o MIP e em http://www.clu-in.org/characterization/technologies/lif.cfm para os LIF). Os ensaios derivados do CPT (CPT, CPTu
e RCPTu), da mesma forma são considerados “Direct Puish” (http://www.clu-in.org/characterization/technologies/dpgeotech.cfm) e são muito utilizados nas investigações
geoambientais de alta resolução.
Porém,
o ensaio RCPTu não fornece valores de concentração de compostos químicos, e o
MIP e os LIFs não fornecem informações sobre o perfil hidroestratigráfico, nem
sobre as heterogeneidades hidrogeológicas. Desta forma, pode-se dizer que um
complementa o outro e que, sem informações da hidroestratigrafia, os resultados
do MIP perdem muito da sua relevância.
11) O RCPTu é muito caro?
R: Inicialmente
é preciso ponderar se o uso de ferramentas adequadas para uma investigação de
qualidade é caro. A alternativa a isso é realizar trabalhos e tomadas de
decisões baseadas em dados ruins e pouco confiáveis. Certamente irá ficar mais
caro tomar uma decisão errada. Há inúmeros exemplos (um deles pode ser visto
aqui: http://www.46cbg.com.br/0110/venus/09h50_luis_pereira_01-10_slvenus.pdf ) de projetos de remediação que tiveram que ser
totalmente remodelados depois de funcionarem (de modo errado) por anos, pois
foram baseados em investigações imperfeitas. Sem falar na possibilidade de
custos ambientais elevadíssimos.
Descontando-se
esse fator, ainda assim o custo dessa ferramenta é baixo. Custa aproximadamente
a metade de sondagens Direct Push mecanizada ou de poços de monitoramento
instalados com Hollow para a mesma quantidade de metros, uma vez que os ensaios
são muito mais rápidos que essas outras modalidades. Se o cálculo do custo for
custo por dado obtido, o RCPTu é extremamente mais barato que qualquer outro
método de coleta de dados para investigação geoambiental, pois fornece
informação de 4 sensores a cada 1 cm.
12) A CETESB (ou qualquer outro órgão ambiental)
aceita o RCPTu?
R: Certamente
aceita, pois o RCPTu é uma ferramenta que vai fornecer subsídios para a
elaboração de um Modelo Conceitual adequado, que é exatamente o que o órgão
ambiental quer. Obviamente não pode ser a única ferramenta para se avaliar uma
área contaminada ou suspeita de contaminação, mas é a melhor ferramenta para
detectar heterogeneidades hidrogeológicas. Os ensaios CPT, CPTu e CE (somente a
condutividade elétrica que, no presente caso, é feito em conjunto com o CPTu)
são ferramentas recomendadas pelos órgãos ambientais americanos para se
realizar o TRIAD Approach, abordagem que prioriza a elaboração em campo de um
Modelo Conceitual com as incertezas gerenciáveis. Essa abordagem,
obrigatoriamente, deve utilizar ferramentas de investigação de alta resolução,
entre elas, o RCPTu.
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