Republicação: Você Tem um MIP? - Parte 2

Olá a todos. Diversos acontecimentos recentes nos obrigaram a republicar essa postagem. Após vencermos a 1a barreira, que foi convencer o mercado que a Investigação de Alta Resolução é melhor que a tradicional, agora temos uma 2a barreira, bem mais complexa: esclarecer o mercado de Áreas Contaminadas que HRSC não é sinônimo de MIP. Para iniciar o debate, gostaríamos de retomar esse texto, publicado há cerca de 1 ano aqui no Blog. Boa leitura

Em dezembro de 2013, publicamos um artigo na revista Pollution Engineering Brasil  e posteriormente uma postagem aqui no Blog falando sobre o Membrane Interface Probe, o famoso MIP.
Hoje, passados 8 meses daquele texto, e depois de muitas conversas que nós da ECD tivemos com diversos profissionais do nosso meio, percebemos que essa dúvida ainda persiste. Muita gente considera o MIP como o "Santo Graal" da Investigação de Áreas Contaminadas. Uma outra parcela, também muito significativa, ainda acredita que usar o MIP é sinônimo de Investigação de Alta Resolução (HRSC). Também há aqueles que são conscientes de algumas limitações, mas, para eles, a informação de posição vertical da maior concentração relativa é suficiente para a elaboração de um adequado modelo conceitual do site. 
Além do que já tratamos no nosso artigo anterior, a nossa presença na Conferência da Battelle em maio/2014 mostrou uma série de particularidades do MIP muito interessantes. É necessário dizer que o MIP é uma ferramenta muito útil, porém, desde que seja utilizada corretamente. 
Isso foi discutido em diversas apresentações, sendo as mais significativas as apresentações do Michael Rossi, e do Seth Pitkin, ambos da Stone Environmental, empresa que utiliza bastante essa ferramenta. Eles disseram basicamente o seguinte:
- O MIP é uma ferramenta qualitativa, não é semi-quantitativa, muito menos quantitativa. São diversas as referências, sendo a mais relevante essa: "Costanza, J., K.D. Pennell, J. Rossabi, B. Riha (2002), Effect of temperature and pressure on the MIP sample collection process, Remediation of Chlorinated and Recalcitrant Compounds - 2002, Paper 1F-08". Não é uma simples questão de semântica, mas isso coloca o MIP no mesmo patamar de um screening de concentrações feito com um PID de campo analisando as amostras no liner, com a vantagem de ser mais rápido, e a desvantagem de não fazer uma correlação do screening com o meio físico. 
- A mesma referência, aliada a essa, diz que variações de temperatura, pressão e a simples presença de SVOC fazem com que os resultados do MIP percam a confiabilidade, o que limita a ação adequada do MIP a locais com temperatura amena, sem muita coluna de água no perfil e sem a presença de compostos semi-voláteis
- Não diferencia a "forma" da concentração detectada: retida, residual, livre ou dissolvida. Normalmente o pico detectado pelo MIP (se a condição anterior tiver sido satisfeita) será onde há maior concentração retida ou residual no solo saturado, e não dissolvida, pois a maior parte da massa (podendo superar 90% quando há grande porcentagem de argila) está ligada ao solo, não à água. Se a ideia é dimensionar uma remediação baseada no pico do MIP, essa estará levando em conta a massa não-móvel. Pior que isso, se esse ponto for escolhido para ser uma zona-alvo de uma coleta de água, também não será representativa, pois não é uma zona de fluxo.
- A principal limitação: o tempo de resposta varia de um composto para outro. Por exemplo, se o tempo de resposta do PCE for de 2 minutos e o de TCE for de 1 minuto, quando o pico aparece, pode ser do TCE naquele ponto ou de PCE 1,20 m acima, o que inviabiliza o uso dessa ferramenta quando há diferentes compostos voláteis
- Para não dizer que foram apresentadas somente limitações, o MIP foi descrito pelos autores como uma excelente ferramenta para um screening inicial em tempo real, e seu uso é tão importante quanto menos se souber a respeito da área a ser investigada. Além disso, seu uso ótimo foi descrito como: altas concentrações de um único composto, sem a presença de NAPL ou SVOC. 

Os autores, bem como muitos outros, enfatizam que a HRSC é a melhor forma de investigação, e precisa ser realizada com foco em 3 questões fundamentais: determinar as heterogeneidades hidrogeológicas, ou seja, conhecer muito bem o meio físico em escala de detalhe; estimar a "massa que se move", através do cálculo de Mass Flux/Mass Discharge, pois essa é a que representa o maior risco; estimar a massa total (lembrando que a maior parte dessa está retida/adsorvida/residual, ligada ao solo) e potencial de Back Diffusion. O MIP, como vimos, não fornece essas informações, embora ajude a consegui-las mais rapidamente. Esses dados são obtidos com amostragens pontuais de solo e água nas camadas corretas, que são determinadas por ferramentas que têm esse objetivo. Uma dessas ferramentas, com eficácia comprovada nessa questão é o piezocone de resistividade (RCPTu).

A apresentação do Michael Rossi pode ser acessada aqui. É um trabalho obrigatório para todos que trabalham com investigação geoambiental de áreas contaminadas.
Em resumo: obviamente o MIP não é o Santo Graal, tampouco é sinônimo de HRSC. Esse artigo tenta esclarecer que o MIP também não é a melhor ferramenta para um screening vertical com o objetivo de definir estratégias de remediação, muito menos para definir o projeto de remediação. Para isso, uma simples amostragem de solo bem feita, na zona saturada, com análise em campo com um bom PID seria melhor e mais barato. O MIP é uma excelente ferramenta para iniciar uma investigação detalhada.
Sobre a pergunta-título, a resposta é:
Não. O que nós fazemos é uma completa investigação de alta resolução.

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