Amostragem de Solo - Posso Viver Sem?
Esse texto foi publicado originalmente no Linkedin, por Marcos Tanaka Riyis. Acesse o texto original aqui
Sempre brinco com meus amigos do mundo das áreas contaminadas que tenho um "mantra", que é "Amostrai o solo". Tentarei, nesse breve artigo, explicitar algumas razões para a existência desse mantra e para a minha insistência com esse tema, que trata da amostragem de solo para investigação de áreas contaminadas.
Vou logo dar a resposta para a pergunta-título: Não, de modo algum você pode realizar uma investigação sem amostrar o solo. Vou enumerar as razões:
- A DD-038 (só pra ficar em um exemplo) estabelece que devem ser investigados todos os meios, ou seja, solo, água subterrânea e ar do solo, portanto, ela obriga o Responsável Técnico a realizar uma amostragem de solo
- Se você, por qualquer motivo, estiver investigando somente a água subterrânea instalando poços de monitoramento, mesmo assim você é obrigado, pela NBR 15.495-1, a ter um modelo conceitual prévio, estabelecer a zona-alvo do monitoramento, dimensionar abertura das ranhuras e granulometria do pré-filtro, tudo isso antes do projeto do poço de monitoramento. Portanto, você precisa amostrar o solo antes de instalar o poço (é importante dizer que não é correto realizar essa amostragem durante a perfuração para a instalação do poço).
- A DD-038 determina também que as investigações devam ser feitas em todas as unidades hidroestratigráficas. A forma com melhor relação custo/benefício para identificar e delimitar essas unidades é realizando amostragem de solo.
Todos esses motivos também explicam a necessidade que essa amostragem de solo seja feita também na zona saturada. Afinal, todas as unidades hidroestratigráficas e as zonas-alvo do poço de monitoramento estão na zona saturada. Explicações mais detalhadas sobre isso podem ser vistas aqui.
Nesse momento, acredito que o leitor que chegou até aqui esteja convencido da necessidade da seguir o mantra. Mas ele pode ter outra pergunta: "Preciso fazer essa amostragem por Direct Push usando liner?"
A resposta claramente é SIM!!!! Vou enumerar os motivos também:
- Se a investigação do solo for de Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs), o uso dos liners (e outras coisas que trataremos em outro artigo) é obrigatório pela NBR 16.434
- Se a investigação do solo for por qualquer outra substância química, mas não for superficial, o Direct Push melhora a representatividade da amostra ao se ter menor incerteza sobre a posição vertical daquela amostra coletada
- Se a amostragem de solo estiver sendo feita para identificar as unidades hidroestratigráficas e/ou previamente à instalação de poços de monitoramento, há a necessidade de ser utilizado o Direct Push, caso contrário, as amostras vêm misturadas e não há como saber de qual profundidade pertence. Em outras palavras, não dá para fazer esse trabalho usando trado manual (menos ainda se for com lavagem) nem amostrar diretamente do espiral (helicoides) dos trados helicoidais (ocos ou sólidos), porque as amostras não são nada representativas
Por último, para não me alongar muito, qual o tipo de amostragem Direct Push deve ser utilizada?
No Brasil, temos disponíveis as modalidades: Single Tube (tubo único de amostrador, com liner dentro, conectado a um conjunto de hastes de diâmetro menor, que, ao ser retirado do solo para coletar a amostra, deixa o furo aberto); Single Tube revestido por Hollow Stem Auger (o mesmo ferramental, mas é cravado por dentro dos trados ocos helicoidais, tem a vantagem de deixar o furo revestido); Dual Tube (tubo duplo, onde o externo reveste o furo e permite que as amostras sejam retiradas com o tubo interno, por dentro desse revestimento e garantindo a representatividade da amostra); e Piston Sampler (tubo fechado, que vai até a profundidade de amostragem, onde é aberto e a amostra coletada somente nessa profundidade).
Todas têm suas vantagens e desvantagens. Eu, particularmente prefiro a Dual Tube, por ser muito eficiente, rápida, permitir o isolamento do furo de sondagem durante a amostragem e garantir amostras representativas em quase todas as situações.
Mas a escolha deve passar pela leitura atenta da norma ASTM D6882, que trata especificamente de amostragem de solo Direct Push. Ela diz que, sempre que possível, deve-se utilizar o Dual Tube. Em situações específicas, pode-se utilizar o que eles chamam de Single Tube fechado, que é exatamente o que nós chamamos de Piston Sampler. O Single Tube de furo aberto, que é largamente utilizado pelo Brasil nas investigações, não deve ser usado em profundidades maiores que o comprimento do amostrador. Ou seja, não basta usar o Direct Push com liner para obter amostras de solo representativas. Deve-se utilizar a modalidade correta do Direct Push para que a investigação seja adequada.
Resumindo: Não dá para viver sem amostrar o solo (Amostrai o Solo!!!!!). Essa amostragem deve ser feita por Direct Push com liner. E a modalidade do Direct Push deve ser escolhida entre Dual Tube e Piston Sampler (em algumas ocasiões pode-se admitir o Single Tube revestido continuamente por Hollow Stem Auger)
Marcos Tanaka Riyis - jul/2018
Sempre brinco com meus amigos do mundo das áreas contaminadas que tenho um "mantra", que é "Amostrai o solo". Tentarei, nesse breve artigo, explicitar algumas razões para a existência desse mantra e para a minha insistência com esse tema, que trata da amostragem de solo para investigação de áreas contaminadas.
Vou logo dar a resposta para a pergunta-título: Não, de modo algum você pode realizar uma investigação sem amostrar o solo. Vou enumerar as razões:
- A DD-038 (só pra ficar em um exemplo) estabelece que devem ser investigados todos os meios, ou seja, solo, água subterrânea e ar do solo, portanto, ela obriga o Responsável Técnico a realizar uma amostragem de solo
- Se você, por qualquer motivo, estiver investigando somente a água subterrânea instalando poços de monitoramento, mesmo assim você é obrigado, pela NBR 15.495-1, a ter um modelo conceitual prévio, estabelecer a zona-alvo do monitoramento, dimensionar abertura das ranhuras e granulometria do pré-filtro, tudo isso antes do projeto do poço de monitoramento. Portanto, você precisa amostrar o solo antes de instalar o poço (é importante dizer que não é correto realizar essa amostragem durante a perfuração para a instalação do poço).
- A DD-038 determina também que as investigações devam ser feitas em todas as unidades hidroestratigráficas. A forma com melhor relação custo/benefício para identificar e delimitar essas unidades é realizando amostragem de solo.
Todos esses motivos também explicam a necessidade que essa amostragem de solo seja feita também na zona saturada. Afinal, todas as unidades hidroestratigráficas e as zonas-alvo do poço de monitoramento estão na zona saturada. Explicações mais detalhadas sobre isso podem ser vistas aqui.
Nesse momento, acredito que o leitor que chegou até aqui esteja convencido da necessidade da seguir o mantra. Mas ele pode ter outra pergunta: "Preciso fazer essa amostragem por Direct Push usando liner?"
A resposta claramente é SIM!!!! Vou enumerar os motivos também:
- Se a investigação do solo for de Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs), o uso dos liners (e outras coisas que trataremos em outro artigo) é obrigatório pela NBR 16.434
- Se a investigação do solo for por qualquer outra substância química, mas não for superficial, o Direct Push melhora a representatividade da amostra ao se ter menor incerteza sobre a posição vertical daquela amostra coletada
- Se a amostragem de solo estiver sendo feita para identificar as unidades hidroestratigráficas e/ou previamente à instalação de poços de monitoramento, há a necessidade de ser utilizado o Direct Push, caso contrário, as amostras vêm misturadas e não há como saber de qual profundidade pertence. Em outras palavras, não dá para fazer esse trabalho usando trado manual (menos ainda se for com lavagem) nem amostrar diretamente do espiral (helicoides) dos trados helicoidais (ocos ou sólidos), porque as amostras não são nada representativas
Por último, para não me alongar muito, qual o tipo de amostragem Direct Push deve ser utilizada?
No Brasil, temos disponíveis as modalidades: Single Tube (tubo único de amostrador, com liner dentro, conectado a um conjunto de hastes de diâmetro menor, que, ao ser retirado do solo para coletar a amostra, deixa o furo aberto); Single Tube revestido por Hollow Stem Auger (o mesmo ferramental, mas é cravado por dentro dos trados ocos helicoidais, tem a vantagem de deixar o furo revestido); Dual Tube (tubo duplo, onde o externo reveste o furo e permite que as amostras sejam retiradas com o tubo interno, por dentro desse revestimento e garantindo a representatividade da amostra); e Piston Sampler (tubo fechado, que vai até a profundidade de amostragem, onde é aberto e a amostra coletada somente nessa profundidade).
Mas a escolha deve passar pela leitura atenta da norma ASTM D6882, que trata especificamente de amostragem de solo Direct Push. Ela diz que, sempre que possível, deve-se utilizar o Dual Tube. Em situações específicas, pode-se utilizar o que eles chamam de Single Tube fechado, que é exatamente o que nós chamamos de Piston Sampler. O Single Tube de furo aberto, que é largamente utilizado pelo Brasil nas investigações, não deve ser usado em profundidades maiores que o comprimento do amostrador. Ou seja, não basta usar o Direct Push com liner para obter amostras de solo representativas. Deve-se utilizar a modalidade correta do Direct Push para que a investigação seja adequada.
Diagrama Dual Tube - ASTM D6828
Diagrama Piston Sampler (Single Tube fechado) - ASTM D6828
Diagrama Single Tube - Furo Aberto - ASTM D6828
Resumindo: Não dá para viver sem amostrar o solo (Amostrai o Solo!!!!!). Essa amostragem deve ser feita por Direct Push com liner. E a modalidade do Direct Push deve ser escolhida entre Dual Tube e Piston Sampler (em algumas ocasiões pode-se admitir o Single Tube revestido continuamente por Hollow Stem Auger)
Marcos Tanaka Riyis - jul/2018
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